O mais interessante para mim nisso tudo foi a grande discussão teológica que se originou por causa das Cruzadas, afinal retomar a Terra Santa usando do sangue e das armas ia/vai contra aos ensinamentos dum sacrificado que pregou o amor ao próximo, mas sacumé, aos monges os sofrimentos dum debate teológico e aos cavaleiros e a plebe fedorenta as glórias dum campo de batalha...bem, vamos ao texto do senhor Georges Bourdoukan, que é jornalista e escritor, autor da Incrível e Fascinante História do Capitão Mouro e de O Peregrino.
"A imagem é rara, raríssima. Um arco-íris em pleno deserto. É para lembrar, segundo antigos mitos, a aliança com Deus. Mitos que foram incorporados pelas religiões, como o foram a Arca da Aliança, o monte de pedras e as ressurreições de Tamuz, Mitra, Átis, Osíris e outros tantos, até Jesus, o Cristo, que só passou a ser considerado Deus e não um profeta mortal, a partir do Concílio de Nicéia, em 325, com o voto de 318 dos 1800 bispos do Império Romano. Até o século IV, o nascimento de Jesus era celebrado no dia 6 de janeiro. Essa data foi modificada em 321, para o dia 25 de dezembro, a pedido do Imperador Constantino, em homenagem ao Sol Invictus.
Um preâmbulo longo, é verdade, mas necessário para relatar as atrocidades que o fanatismo religioso causa, como o ocorrido em 13 de janeiro de 1099, durante a tomada de Jerusalém pelos vinte mil cruzados sob o comando de Boemundo, Tancredo, Roberto da Normandia, Godofredo de Bouillon e Roberto de Flandres. A história registra que na mesquita de Al-Aksa eles degolaram mais de quinze mil mulçumanos que ali procuraram refúgio e que depois de expulsar os cristãos ortodoxos gregos, coptas, jacobitas, armênios e monofisistas, queimaram os mais de dois mil judeus que se refugiavam na sinagoga. Mas tarde, um conselho presidido por Godofredo ordenou o extermínio de todos os mulçumanos de Jerusalém, num total de setenta mil pessoas. Essa operação durou oito dias. Relatos da época dizem que os cruzados praticaram as mais “repugnantes orgias, desde violação de cadáveres até canibalismo”.
O cônego Raimundo de Aguilers, capelão dos invasores, deixou esse relato em sua história Francorum que Ceperunt Ilherusalem: “Maravilhoso espetáculos alegravam nossas vistas. Alguns de nós, os mais piedosos, cortaram as cabeças dos mulçumanos; outros os fizeram alvos de suas flechas, fazendo-os cair dos telhados das mesquitas; outros foram mais longe e os arrastaram até as fogueiras. As ruas e as praças de Jerusalém estavam entulhadas de cabeças, pés e mãos. Mas isso não é nada comparado com o que fizemos no interior da mesquita edificada sobre o antigo Templo de Salomão. Ali, os cadáveres dos fanáticos de Maomé flutuavam no sangue arrastados de um a outro ponto. Mãos e braços cortados flutuavam para juntar-se a corpos que não lhes correspondiam. Em muitos lugares, o sangue chegava até nós em ondas e os soldados que faziam essa carnificina não conseguiam respirar devido ao vapor que ali exalava. Quando não havia mais mulçumanos que matar, os chefes do exército se dirigiram em procissão até a Igreja do Santo Sepulcro para a cerimônia de ação de graças”."